O problema não está no crack – está na alma
Denis Russo Burgierman
De cada 100 pessoas que experimentam crack, algo em torno de 20 tornam-se dependentes. É um número assustador, preocupante, claro, mas é importante notar uma coisa: é a minoria. O crack é mais viciante que a maconha (9%), menos do que o tabaco (32%, a taxa mais alta entre as drogas). Mas a grande questão é a seguinte: o que faz com que algumas pessoas que experimentam as drogas fiquem dependentes e outras não?
Segundo o médico húngaro-canadense Gabor Maté, a resposta é simples: as pessoas que se afundam nas drogas são as mais frágeis. Gabor é um dos especialistas mais respeitados do mundo em dependência e esteve no Brasil esta semana. Sua palestra, no Congresso Internacional sobre Drogas que aconteceu no fim de semana em Brasília, foi imensamente esclarecedora.
“Em 20 anos trabalhando com usuários em Vancouver, eu nunca conheci nenhum dependente que não tivesse sofrido algum tipo de abuso na infância – abuso sexual ou algum trauma emocional muito grave”, ele disse. Ou seja: dependentes de drogas são sempre pessoas com fragilidades emocionais causadas por traumas na infância.
O momento mais polêmico da palestra foi quando ele afirmou algo que ninguém esperava ouvir: “drogas não causam dependência”. Como assim não causam? E aquele bando de gente esfarrapada no centro da cidade? Ele explica: “a dependência não reside na droga – ela reside na alma”. É que quem sofreu abusos severos na infância acaba tendo sua química cerebral alterada e cresce com um eterno vazio na alma. Frequentemente esse vazio acaba sendo preenchido com alguma dependência. “Pode ser uma droga, ou qualquer outro comportamento que traga algum alívio, ainda que temporário: compras, sexo, jogo, comida, religião, internet.”
Repense
Hoje é um dia de festa para a campanha Repense e a equipe do Ilegal. No filme, contamos a história de Thaís e Jairo Carvalho. Ela teve câncer de ovário e ele importou sementes para plantar maconha medicinal e ajudá-la no controle das náuseas e vômitos pela quimioterapia.
A experiência com a erva transformou o quadro de Thais, mas ele foi indiciado por tráfico internacional de drogas, por causa da importação de sementes. Hoje, soubemos que o juiz não aceitou a denúncia do Ministério Público.
Além de constatar que não havia provas de que Jairo traficasse, o juiz observou que seu cultivo tinha “finalidade altruísta e humanitária”. Esperamos que essa interpretação seja cada vez mais comum entre os agentes da lei e operadores do direito.
É preciso entender que quem planta não trabalha para o tráfico, mas CONTRA o tráfico. Chega de prender gente que importa sementes. O cultivo é a melhor saída para muita gente que precisa tratar sintomas de algumas doenças.
E mesmo para quem quer apenas “fazer a cabeça”, o cultivo é uma forma de garantir um direito individual sem compactuar com o crime organizado e violento que massacra nossa sociedade.
É preciso regulamentar o quanto antes o cultivo de maconha, principalmente para fins medicinais, mas não apenas para isso.
Força, Thaís! Força, Jairo! Liberdade para vocês e todos os cultivadores.
Fonte: Repense. Disponível aqui.
Ex-presidente da suíça defende regulamentação de drogas
Ruth Dreifuss diz que manter a política de drogas na esfera criminal é um atraso. Para ela, a questão é de saúde pública
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. - Da Secretaria de Comunicação da UnB
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Auditório - Fac. de Direito. Foto: Isa Lima/UnB Agência | Reitor Ivan Camargo e Ex-presidente da Suíça Ruth Dreifuss. Foto: Isa Lima/UnB Agência |
Nesta quinta-feira (16), o auditório da Faculdade de Direito foi palco de debate sobre novas políticas públicas de drogas. Estiveram presentes a ex-presidente suíça Ruth Dreifuss, o reitor Ivan Camargo, o secretário federal de Políticas sobre Drogas Leon Garcia (Senad/MJ), a professora Andrea Gallassi, do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas (CRR/FCE/UnB), a coordenadora-executiva do secretariado da Comissão Global, Ilona Szabó de Carvalho, e o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).
Conferência para políticas de drogas que funcionam
Nesta quinta-feira (16) aconteceu a "Conferência para políticas de drogas que funcionam" no auditório da Faculdade de Direito. A ex-presidente da Suíça, Sra. Ruth Dreifuss, participou do evento, onde aconteceu um debate sobre as experiências internacionais e nacionais sobre o tema. Em 1999, durante seu mandato presidencial, Ruth Dreifuss conduziu o desenvolvimento de novas políticas públicas sobre drogas e para a prevenção da Aids. Dreifuss, que foi também ministra da Saúde da Suíça, hoje é membro da Comissão Global de Políticas sobre Drogas.>
Confira as fotos:
Ilona Szabo De Carvalho (representante da Global Comission on Drug Policy), Deputado Federal Paulo Teixeira, Prof. Ivan Camargo (Reitor da UnB), Sra. Ruth Dreifuss, Aldo Zaiden (Plataforma Brasileira de Política sobre Drogas) e Prof.ª Andrea Galassi
Jantar após o evento.
Com informações de Alexandre Bastos, da Secretaria de Comunicação da UnB.